segunda-feira, outubro 30, 2006

Domingo Sem Deus na Terra da Solidão

Todo o dia e sem parar, ele ouvia uma mesma voz:

«Foge para o mar! Aqui estão todos sós!»

Quando a peste da solidão se abateu sobre o seu olhar, recusou e disse que não: que era o medo de amar.

E fugiu, voltou para casa sem um pio, sem um som, engoliu a madrugada e dormiu, e sonhou, já o dia gritava:

«Vem, vem! E gasta essa esperança, seu filho da mãe! Esquece essa coisa do mal e do bem! E gasta-te todo e a tudo o que tens!»

E acordou, acordou sem cedo ou tarde: murmurou, tropeçou, pela casa, pelo carro, e avançou pelo cais, já as águas chamavam:

«Vem, vem! E gasta essa esperança, seu filho da mãe! Esquece essa coisa do mal e do bem! E gasta-te todo e a tudo o que tens!»

J. P. Simões

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