Todo o dia e sem parar, ele ouvia uma mesma voz:
«Foge para o mar! Aqui estão todos sós!»
Quando a peste da solidão se abateu sobre o seu olhar, recusou e disse que não: que era o medo de amar.
E fugiu, voltou para casa sem um pio, sem um som, engoliu a madrugada e dormiu, e sonhou, já o dia gritava:
«Vem, vem! E gasta essa esperança, seu filho da mãe! Esquece essa coisa do mal e do bem! E gasta-te todo e a tudo o que tens!»
E acordou, acordou sem cedo ou tarde: murmurou, tropeçou, pela casa, pelo carro, e avançou pelo cais, já as águas chamavam:
«Vem, vem! E gasta essa esperança, seu filho da mãe! Esquece essa coisa do mal e do bem! E gasta-te todo e a tudo o que tens!»
J. P. Simões
segunda-feira, outubro 30, 2006
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