sexta-feira, setembro 29, 2006

Não me peças perdão

Não me peças perdão, a culpa é minha:
foi este tempo todo descuidado,
foi não achar que o fim um dia vinha
foi ficar sem defesas a teu lado

foi nunca te lembrar em sobressalto
foi não deixar falar a tua boca
foi não pensar em ventos no mar alto
foi tanta coisa, tanta, hoje tão pouca

foi deixar-me viver em falsa paz
foi afagar-te as mãos sem as prender
ou foi prendê-las mal e tanto faz
julgar que se morria de prazer

agora é tarde, sim, tarde de mais,
tropeço às cegas nesta dura lei,
não sei se vale a pena dar sinais
e o que te hei-de dizer também não sei.

Vasco Graça Moura

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu sei que quem falou foi o Poeta Vasco Graça Moura....

Mas já agora, como pode concluir logo que é tarde demais e até nem sabe se vale a pena dar sinais.....e o que há-de dizer também não sabe...?

Mas o que é o Sr Poeta queria? Saber se vale a pena dar sinais antes de os dar? Ter certezas na vida antes de arriscar? Saber que se adoptar determinada atitude obtém determinada resposta? Ter um controle absoluto sobre a vida para não sofrer?

Pois eu acho que é precisamente esta necessidade de controle absoluto sobre o que poderá acontecer que nos conduzem em vertigem, seguramente em
angústia, e nos impedem de viver o dia a dia, o aqui e agora.

Este magnífico Poeta nunca poderá saber o que acontecerá se não correr o risco e se não perceber que afinal nada do que fizer ou arriscar o deixará pior do
que já está. Nem conhecerá o bom que seria ....

Carpe Diem

Moisés Gaudêncio disse...

Ufa! Tô a ver que não gostaste... o pobre Graça Moura deve estar com as orelhas a arder.

Sério, o poema aparece a propósito desta frase:

«O pior sentimento que se pode ter, é o arrependimento do que não se fez.»

Parece-me que as pessoas são complexas e nada previsiveis, e muitas vezes não fazem aquilo que provávelmente deveriam por uma série de razões muitas vezes dificeis de entender pelos outros... e muitas vezes por si próprias. E então quando se trata de amor, xiii...

Anónimo disse...

Gostei do poema, sim. Gostei até muito.

Achei que tinha muito a ver com "aquela frase", mas mantive a dúvida.
Nós pensamos por meio das palavras e se as usarmos com mais de um sentido podemo-nos enganar com grande facilidade.
Se é dificil para nós entendermos certas atitudes nossas, quanto mais não será para os outros....falo tb por mim.

Quando se trata de amor é fácil meter os pés pelas mãos e ficar com a sensação, 'estraguei tudo'. Mas se calhar essa sensação só fica se a pessoa não é correspondida, porque se não o for, nem que faça o pino..., não adianta.
Agora..., se for, pode meter os pés pelas mãos muitas vezes.

É o medo que vem sempre agarrado ao amor e à dúvida que nos imobiliza.
Quando nos tornamos transparentes, podemos, aos poucos, ir perdendo o medo e aumentando a intimidade com a pessoa que nos encantou.

E assim já não faz sentido dizer,
«agora é tarde, sim, tarde de mais,»

Uma coisa é certa: 'É melhor tentar e perder ... do que Viver na Incerteza!'

http://www.sabedoriadosmestres.com/cronica_de_amor.html