quarta-feira, janeiro 24, 2007

A vida é mesmo nossa?

(Quadro de Marc Chagall)

Encostei-me à janela, olhando a noite.
Quanto mais a vida parece nossa, e é mesmo nossa, mais pessoas se misturam nela. E, quantas mais pessoas se misturam nela, mais temos que dizer sem ter a quem. Porque é impossível falar dela aos outros, sem mostrar a que ponto há ainda outros que estão envolvidos, às vezes sem sequer saberem que o estão. Por isso, talvez, é que as pessoas falavam tanto, sem dizer nada, precisamente para disfarçarem quanto sabiam, e para não revelarem, nem a si mesmas, os segredos de que eram as depositárias. Ou se abandonavam às ordens de alguém, ou de uma igreja, ou de um grupo, ou do que achavam que seria o acaso, para não se sentirem responsáveis por tamanho peso de vidas alheias. Ou ao amor...

Jorge de Sena (in «Sinais de Fogo»)

2 comentários:

Anónimo disse...

Ao amor..., é melhor..., parece-me bem ;)

Um romance de poesia em bruto, dizem...não li.

Moisés Gaudêncio disse...

Vale a pena... é a melhor coisa que tenho lido nos últimos tempos. E sim às vezes a sua poesia «é bruta»...