A paixão, descobri, era isto: ao mesmo tempo, um desejo ansioso e total de posse exclusiva, e um reconhecimento, entre desesperado e feliz, de todos se identificarem connosco. No momento em que, pela paixão, nos sentíamos mais nós mesmos, era quando todos os outros eram nós mesmos em nós. Mas, se assim acontecia, se, no conhecimento absoluto de nós mesmos pela paixão, nos identificávamos afinal muito menos com o objecto dela que com os outros seres que, nesse objecto, participavam da sua realidade e mesmo a constituíam, a paixão destruía-se a si própria, ou nós próprios nos destruíamos, e os outros nela. Senti uma espécie de vertigem. E logo percebi que nós mesmos inventávamos a paixão.
Jorge de Sena (in «Sinais de Fogo»)
segunda-feira, janeiro 29, 2007
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4 comentários:
Não sei bem o que a paixão,nem tão pouco definir o que é o amor nem porque se sente por alguém. Se sente e ponto final(ou reticências). Se inventamos a paixão então ainda bem,ja basta de definições e instruções...a vida é bela...
Olá! Já tinha saudades! Tudo bem?
Claro que sim, sente-se e mais nada! Mas deixa lá, fico sempre encantado com uma definição bem apanhada. É deformação profissional! ;)
Um livro simplesmente fabuloso...
Maria, é mesmo... Sena é tremendo e ao mesmo tempo súbtil...
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