terça-feira, maio 30, 2006
Tempestade
...as nuvens eram como cavalos velozes, saltando pelo céu fora. Uma tempestade sinistra e extemporânea que ia estalar! Assim era o amor, o amor que chegava tarde demais.
Malcolm Lowry
Lua Barca
(Foto: Isidro Dias)
Não posso adiar o amor
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa
Não posso adiar o amor
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa
Um fado qualquer
E enfim, estava tudo bem ou coisa assim:
o apartamento confortável, bom design,
um amor normal e tal.
Em vão procurou razões de exaltação
e voltou para casa muito, muito devagar,
como quem não quer chegar.
Pensou nos tempos que em festas e dramas
bebeu pelos becos, dançou nas vielas,
pôs todos os homens a cantar.
Mas hoje à noite, se um fado qualquer
soar estafado na sala de estar,
talvez se aguente, sem nada dizer,
enchendo a boca durante o jantar.
J.P. Simões (2004)
quarta-feira, maio 24, 2006
Nome
Será que já não se sabe nada,
que não nos lembramos de nada,
que as estátuas já são de cimento?
Mas as pedras e a luz vivas são,
e esta gente com nome, nome dará
ao deserto do esquecimento.
Porque alguém ainda vai querer lembrar
que esta terra quase seca, magoada
tem novas histórias para contar.
Céu da gente ou quem és tu
dá-me a força do mar
Que as vagas vá espraiar
à terra muda que espera.
Céu da gente ou quem és tu
deixa-me ir beijar a terra
Que ao passar a barra maior
o mar tem jeitos de amor.
Será que se os meus cabelos soltar
entrançados vão ficar
no passado, que é a raiz?
Mas as tranças lianas são
baloiçando, ai no meu coração
a lembrar o que sempre quiz:
Aprender de novo que povo é este
que fez, que quase partiu, refaz talvez,
ai este raio, raio de país.
Anamar (1987)
Subscrever:
Mensagens (Atom)