sexta-feira, setembro 29, 2006

Não me peças perdão

Não me peças perdão, a culpa é minha:
foi este tempo todo descuidado,
foi não achar que o fim um dia vinha
foi ficar sem defesas a teu lado

foi nunca te lembrar em sobressalto
foi não deixar falar a tua boca
foi não pensar em ventos no mar alto
foi tanta coisa, tanta, hoje tão pouca

foi deixar-me viver em falsa paz
foi afagar-te as mãos sem as prender
ou foi prendê-las mal e tanto faz
julgar que se morria de prazer

agora é tarde, sim, tarde de mais,
tropeço às cegas nesta dura lei,
não sei se vale a pena dar sinais
e o que te hei-de dizer também não sei.

Vasco Graça Moura

quinta-feira, setembro 28, 2006

Os Caminhos


(Foto: Neil Collier)

Não sigas as marcas que deixo por entre os lagos da chuva,
ainda que depois de ti ninguém mais habitasse a casa
dentro do meu coração. Depois de ti o deserto povoou
o que se foi confundindo com a neve, o abandono do jardim

e agora recordo que depois de ti ninguém mais navegou
nos oceanos, ninguém mais morreu de alegria de poder
voar sobre um nome. Não sigas, por isso, os meus passos
na terra molhada das primeiras chuvas do Inverno.

O coração vive fora da geografia e dos mapas. Enganos
e ilusões: isso me dás para consolar o frio à volta dos lagos.

Francisco José Viegas

quarta-feira, setembro 20, 2006

Praias

Dorme, flutua numa espécie de lago. A respiração dos seios empurra
contra as paredes do quarto, em ondas lentas, o meu corpo
afogado. Não consigo dormir.
Esperarei toda a noite nessas praias de cal, desertas, verticais.

Carlos de Oliveira

segunda-feira, setembro 18, 2006

Aliens

(Dirty Pretty Things)

Na grande confusão deste medo...

Na grande confusão
deste medo
deste não querer saber
na falta de coragem
ou na coragem de
me perder me afundar
perto de ti tão longe
tão nu
tão evidente
tão pobre como tu
oh diz-me quem sou eu
quem és tu?

António Ramos Rosa

quarta-feira, setembro 13, 2006

Esperança e Desespero

(Foto: Bluehuskie)

Who is not engaged in trying to impress, to leave a mark, to engrave his image on the others and the world?
We wish to die leaving our imprints burned into the hearts of others.

What would life be if there were no one to remember us when we are absent, to keep us alive when we are dead? And when we are dead, suddendly or gradually, our presence, scattered in ten or ten thousand hearts, will fade and disappear.

How many candles in how many hearts?
Of such stuff is our hope and our despair.

E. S. Shneidman (citado por Rubem Fonseca)

terça-feira, setembro 12, 2006

White Heat

(Lost Highway)

Incinerate

Broken Boy Soldier

Tempo Circular

Andei pela memória à procura de saída,
e encontrei becos, muros, abismos; fui
ao futuro, sabendo que aí é a porta de ontem;
cruzei-me com velhos, almas penadas,
sombras; e voltei ao presente,
com as suas mesas de agora. Limpei-as
de toalhas e copos, risquei a madeira
onde uma frase se inscrevia, deixei
tudo sem nada e as palavras
em branco.

Então, recomeço tudo, entre passado
e futuro, no campo do presente.

Nuno Júdice

quinta-feira, setembro 07, 2006

O Irmão do Meio


Que força é essa, amigo?

terça-feira, setembro 05, 2006

Lido nos Lábios


(Foto: Mariza)

The good life is out there
I'm sure that is true
But where out there please tell me
Don't save it all for you

What luck is this
What does it mean
Is it waiting out there for me
Or is it only just a dream

Please tell all
Don't keep me in the dark
Feeling lonesome feeling sad
Waiting for that just one spark

Which path do I choose
What trail do I keep
Where are the answers
For all that I seek

? aka mayiplease

sexta-feira, setembro 01, 2006

Sweet Apple

Velocidade

(Quadro de Umberto Boccioni)

Paul deixava a bicicleta embalar pelas encostas abaixo. As estradas eram escorregadias e ele não podia meter travões.

(...)

A bicicleta parecia desintegrar-se debaixo dele e Paul adorava a sensação.

O descuido é a vingança de um homem sobre a mulher. Sentindo que não é devidamente apreciado, arrisca a sua própria destruição, para que ela sinta a sua falta.

D.H. Lawrence